quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Colegas de Sofrimento V

Continuando a história dos meus queridos colegas de martirio.

Quando o homem de Lagos saiu entrou um da outra ponta do Algarve, nomeadamente da barragem de Odeleite, local que dá água a metade do Algarve, sitio bem bonito e que vale a pena visitar, quem quiser pode subir a estrada no sentido Norte e verá locais fantásticos até ao Alentejo.
O homem de Odeleite, entrou e saiu num instante, foi uma pequena operação ao joelho, veio para o seu lugar o amigo Vicente, vizinho de Faro, do local do Escuro ( é mesmo assim que se chama ) à saída de Faro. Pessoa humilde com duas operações à cabeça já realizadas tinha muito receio de tudo, de tal forma que teve que ser algaliado por não conseguir mictar, para evacuar foi o mesmo problema, mas era um castiço que estava constantemente a meter-se com o Mario o nosso Romeno de estimação.

Entretanto o Garry voltou para Inglaterra e veio na mesma noite um Canadiano, era a cama dos estrangeiros como nós diziamos, esta raridade dizia que não falava Português, queria ser operado à perna no Canada, mas lia o jornal a Bola e revistas nacionais. Belo artista, ficou só um dia.
Entretanto o Vitalino e não Vitorino como lhe chamei em Marcas anteriores tinha sido operado e colocado em cadeira de rodas, foi a nossa desgraça, como dizia o Garry, o animal de noite não dorme e passa o tempo todo a passear na cadeira, que como era das novas ( 15 anos ), chiava loucamente. No dia que foi colocado em canadianas, já ele nem as apoiava, andava como se não tivesse tido nada, a Fisioterapeuta dizia-lhe: Voce ainda cá vai voltar...

Com a sua saída entretanto veio o maior animal de todos, Carlos filho de Castro Marim.
Pedreiro de profissão ia para o trabalho de manhã na sua Famel quando um Mercedes dos velhos o passou a ferro de frente ( era uma mulher a conduzir).
Desde a sua chegada que o nível baixou bastante na enfermaria, o palavreado da besta era simples, em cada 5 palavras 4 eram asneira sendo que 3 começavam por F.
Quando veio da operação vinha a gritar, queria tirar a algalia, depois queria medicamentos para as dores, depois queria dormir, foi uma noite de pesadelo, se pudesse tinha-me levantado para lhe bater.

Na 1ª visita perguntou aos médicos quando é que se podia levantar, o médico respondeu-lhe se ele se lembrava do que lhe tinha perguntado nas urgencias, ele disse que sim.
Tinha perguntado ao médico se voltaria a andar, o médico disse-lhe então á nossa frente, que apesar de já o ter operado ainda não sabia responder a essa pergunta, dado que entre outras coisas o joelho dele parecia brita, quando deu entrada no hospital.

A besta até era gira e brinquei um pouco com ele, eu e o Mario gozavamos bastante, nomeadamente com a comida porque ele era muito esquisito, não comia quase de nada, gostava era de frango, mas mesmo assim, a irmã (gira mas sem mamas) trouxe-lhe o frango mas esqueceu-se do piri piri e o energumeno gritou com ela de tal forma que até eu intervi.
No dia da minha saída a enfermeira chefe foi-lhe dizer que se ele continuasse com o mesmo comportamento faziam-lhe uma carta com alta para ele ir para outro hospital que ali não o aturavam mais - ela tinha razão.

Quando entretanto o Mario saiu, contra vontade, porque morava sozinho e seria dificil para ele aguentar em casa e fazer comida e compras e etc, veio para o lugar dele um monhé de Goa.
Mais um que não falava nada de portugues, mas este era um verdadeiro artista, pedia a arrastadeira, fechava as cortinas e fumava ás escondidas, claro que foi caçado.

Foi neste lindo clima que vim para casa, e deixei as pobres enfermeiras, entregues a estes animais...ai meninas, gritem que eu vou, ou mando alguém.
Lembro-me já de um amigo meu que até chegou a fazer Poesia:
-É um passaro ?, é um avião ?
-Não
-É a enfermeira C. a fazer um B. ao F...pão

Maravilha, que grande hospital e que grandes amigos..

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