segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Os colegas de Sofrimento

Como referi anteriormente os primeiros tempos nos hospital não foram faceis, mesmo nada faceis....
Quando começamos a ter noção da realidade, daquilo que nos aconteceu (nada que não tivesse já ouvido ou lido em relatos de outros), do estado em que estamos, é que começa o calvário.
Independentemente da forma como acontecem os acidentes, e o meu em particular, somos sempre levados a pensar nos milhares de coisas diferentes que poderíamos ter feito para que isto não acontecesse. É a regra de ouro, sentimo-nos culpados, sem esperança, destroçados, a vida tem e faz pouco sentido nestas alturas.

No meu caso particular a tudo isto tenho que somar um conjunto de coisas muito positivas que me tinham acontecido nas duas semanas anteriores e que me tinham deixado francamente bem disposto e moralizado. Mas....

A cabeça trabalha a mil á hora, quando tentamos dormir é complicado, não conseguimos ouvir nem ver ninguém. Até que chega um dia que por uma qualquer razão a cabeça decide mudar, faz-se um clic e o Sol volta a brilhar.

Comigo isto aconteceu no final da primeira semana, independentemente de ter tido mais à frente dias também muito maus e complicados de passar.
Uma das forças que me ajudou a levantar foram os meus colegas de quarto. Como descrevi anteriormente eram 4 encomendas, o quinto que veio a falecer foi entretanto substituído por um outro, que tinha caído de uma Alfarrobeira, resolveu cortar um ramo que estava a fazer sombra ás Rosas da mulher.

As histórias sobre tropa, os contos sobre contrabando dos meus vizinhos da frente eram fantásticos, o Russo, o Vasili no inicio da 2ª semana, já noite dentro começou a gritar - Eu ir embora eu querer ir para casa, eu vou !!!!! relembro que ele dizia ás enfermeiras que não falava Português. Não contente com isto levantou-se em pijama e abalou, foi apanhado por um segurança e um enfermeiro já próximo dos elevadores, foi trazido para cima e colocado no duche de água fria (2:30h da madrugada) ,trouxeram-no para o quarto encostaram-no na bacia e pediram para espetar o rabinho, foi á moda antiga, levou uma valente seringadela, deitaram-no e disseram que já lhe traziam os papeis para assinar de forma a que fosse para casa, em menos de nada já dormia. De manhã quando acordou estava atado de mãos e pés á cama.

Claro está que enquanto decorria esta aventura nós, os outros "judeus", riamos que nem uns porcos, eu especialmente, com o belo sentido de humor que Deus me deu, avacalhava até ao osso. Foi memorável e ficou no Top 5 das histórias do Hospital

2 comentários:

Tiago disse...

Não gozes com os russos, que os gajos ainda te dão um desgosto logo à noite... Chorei a rir!

W. V. D. disse...

também tal como o Kiev o Vasili era Ukraine e foi bem despachado